PORTO VELHO – Um dia antes da data, hoje, em que Rondônia completa 40 anos de vida como Estado, o veterano piloto goiano Dezival Ribeiro dos Reis, faleceu na madrugada desta terça-feira, personagem importante e muito discreto da nossa história desde os tempos do Território, faleceu ontem em Porto Velho, mais de 50 anos depois de chegar para trabalhar em sua profissão e se tornar testemunha e figura de destaque em muitos eventos importantes para nossa gente.
Segundo o próprio Dezival, em entrevista em sua residência, voou em Rondônia em situações as mais diversas, incluindo na fase de garimpagem de cassiterita, mas sua participação maior foi quando em várias ocasiões nos anos finais da década de 1970 até a metade da de 1980, pilotou aviões acompanhando autoridades federais e políticas, incluindo os governadores Marques Henriques (dois governos), Gahyva, Humberto Guedes e Jorge Teixeira.
No período também acompanhou a mobilização política e ingressou no PDS, como ele dizia, por pressão de amigos, e não porque quisesse ser candidato.
Testemunha, involuntária e privilegiada, de fatos políticos importantes (ver entrevista concedida por Dezival), esteve presente em todas ações que antecederam as criações dos municípios de Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal, Vilhena e Pimenta Bueno, em 1977, incluindo a construção da cidade de Ariquemes, e, por obra do destino, Dezival tornou-se presidente regional do PDS, derrotando seu amigo o governador Jorge Teixeira apoiador da reeleição do então senador Claudionor Roriz.

O PDS já chegou dividido em 1982
Ganhador da eleição de 1982, quando elegeu os três senadores, cinco dos deputados federais, 15 dos 24 estaduais, todos os prefeitos dos nove municípios onde houve eleição e mais de 60% dos vereadores, o PDS já vinha cindido mesmo antes da disputa, e quem diz isso é uma das testemunhas e, logo depois, personagem de primeiro plano, daqueles fatos. O goiano Dezival Ribeiro dos Reis.
No início da década de 1980 Dezival era um empresário com atividades, há mais de 20 anos no ex-Território Federal, no setor de transporte aéreo local e, mais por amizade com alguns políticos do que por interesse real em resultados pessoais com a política, ingressou na ARENA; depois, no PDS que a sucedeu, mas a partir de 1983 passou a ter uma posição mais ativa.
Em 1983 Dezival estava em casa, depois de ter votado na convenção do PDS que elegeu os membros do diretório regional, quando foi procurado por um grupo de convencionais que o levaram de volta para ser candidato, e eleito, a presidente do partido.
“Antes eu quero explicar uma coisa: Eu era amigo pessoal do coronel Jorge Teixeira e só discordava dele pela linha política, porque ele não sabia tratar os políticos, e fui testemunha de várias situações assim”.
Ele prossegue: Mesmo nas ocasiões em que estivemos distanciados politicamente nós sempre mantivemos bom relacionamento pessoal”.
Dezival contou que a partir da entrada do ex-coordenador do MDB Claudionor Couto Roriz, no PDS e sua indicação, pelo governador Jorge Teixeira, para organizar o partido e, a seguir, assumir sua presidência regional a sigla se dividiu.

Ele cita outro exemplo, o da escolha dos candidatos ao Senado. “Havia o compromisso formal do governador Jorge Teixeira com o dr. Rachid (médico Leônidas Rachid Jaudy); com o Morimoto (deputado do PDS/SP Antonio Morimoto, relator do projeto que criou o Estado) e até documento assinado; com o Flávio Donin, e o Teixeira não cumpriu nenhum. O Rachid nós conseguimos trazer de volta e fazê-lo até participar do jantar em que o governador definiu os nomes a deputado federal, e ele foi eleito”.
No ano seguinte àquela eleição, quando começou a disputa interna do PDS, entre Paulo Maluf e Mário Andreazza pela indicação à Presidência da República, Dezival foi eleito presidente regional da sigla. “Todos nós tentamos que o próprio governador fosse à convenção e se ele fosse teria reeleito o dr. Claudionor, porque ganhei por um voto. Se ele tivesse ido certamente teria ganho algum convencional”.
“Assim que fui proclamado eleito telefonei a Teixeira e ele nos recebeu, menos o jornalista Maurício Calixto que o próprio governador disse que não o queria ver”. Aqui Dezival destrói uma estória dessa reunião: “O acertado entre nós mesmos é que iriam ao encontro do governador os membros da Comissão executiva, no máximo 12 pessoas, mas havia muita gente e todos queriam ir”.
“Nós éramos mais de 20 e na sala não havia cadeiras suficientes. Por isso ninguém sentou” – esse depoimento desmente afirmações inclusive dos veículos de comunicação do grupo Mário Calixto, de que Teixeira não mandara nem sentar para conversar e que não oferecera nem cafezinho. “Era noite do domingo, não tinha ninguém no Palácio. E o gabinete do governador ficou lotado, tinha muita gente que não era para ir”, lembrou Dezival.
Em 1984, logo após o Teixeira ter garantido ao presidente João Figueiredo que todos os votos de Rondônia iriam na convenção do PDS para o ministro Mário Andreazza, Dezival (e) foi chamado por Figueiredo (d). “Eu disse a ele que Andreazza teria apenas dois votos de Rondônia e expliquei que o candidato dele nunca havia pedido voto a ninguém, enquanto Maluf procurava os convencionais pessoalmente e através de sua assessoria”.
Sobre Teixeira, Dezival Reis tem uma posição: “Ele foi importante para que Rondônia chegasse a ser Estado, mas outros governadores também foram importantes, e não teve a dimensão do que isso representava e do que daí decorreria. Talvez por isso teve todos os problemas que encontrou, especialmente no relacionamento com os políticos”.
Já sobre o antecessor de Teixeira, o governador Humberto da Silva Guedes, Dezival lembra que “graças ao trabalho dele foi possível que o Território ganhasse as bases necessárias para ser o Estado, o que facilitou para o Teixeira”.
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