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ESCOLA RURAL – Apesar da pobreza, elas produziram cabeças maravilhosas

PORTO VELHO – O MEC não sabia de tudo da realidade amazônica no final dos anos 1970. Por isso mesmo, escolas de pau a pique com aulas sublimes em mesas tortuosas e com uma só professora lecionando para crianças da 1ª, 2ª, 3ª e quarta séries ao mesmo tempo só se tornaram conhecidas nas décadas seguintes pelas lentes dos repórteres fotográficos Marcos Santilli e Kim Pires Leal.

Duas vezes eu vi escolas assim, cobertas de palha ou de pedaços de madeira, simplórias, antipedagógicas, nos projetos de colonização Rolim de Moura e Riachuelo.

Não me lembro bem do diálogo com alunos e professores, mas guardo na memória a simplicidade deles e a certeza da importância que os moradores atribuíam ao ensino no meio da zona rural e da floresta. Mesmo ali jogados no antro da malária e outras doenças, eles sentiam-se confiantes em dias melhores.

Rondônia era um território federal, tinha secretaria de educação, porém, os clamores daquela gente por melhores condições de vida só obtinham ressonância na Câmara Municipal de Porto Velho, que compunha com Guajará-Mirim a única dupla de municípios então existentes.

As fotos falam por si: alunos assíduos, lousa de madeira pendurada, bancos tortíssimos, recebiam as primeiras lições do chamado (naquele período) Ensino Primário.

A escola do mato, conforme a maioria a classificava, era totalmente dependente da boa vontade dos agentes da colonização, dos pais colaboradores, dos líderes que um dia acalentaram o direito de concorrer a cargos políticos. Seus feitos eram mencionados em discursos reveladores da socialização e transmissão de conhecimentos acumulados pela humanidade.

O jornalista Carlos Araújo, atualmente editor deste expressaorondonia, mas com passagem profissional por vários instituições e veículos de comunicação, estudou em uma dessas escolas, em 1976, numa localidade rural chamada ‘Cantina’, na linha 153, em Ouro Preto do Oeste, àquela altura, apenas PIC Ouro Preto.

Ariquemes, Cacoal, Colorado do Oeste, Jaru, Ji-Paraná, Ouro Preto do Oeste, Rolim de Moura, foram surgindo sob o impacto do machado e da motosserra, manuseados na maioria das vezes pelos pais dos primeiros alunos interioranos.

Enquanto a Capital, Porto Velho, teve instalado o Curso Normal Regional do Território Federal do Guaporé Carmela Dutra, em prédio de alvenaria, no mês de dezembro de 1947, três décadas depois a escola do sertão não passava de um sonho.

Escolas de pau a pique estavam assim bem distantes da realidade das grandes cidades, totalmente desiguais em estrutura, apesar da boa vontade de heroicos professoeres mandados para lá. E todos compreendiam a vontade e o querer daqueles rurais em conhecer conteúdos que lhes facilitariam sair um dia da cartilha, das noções de ciências, geografia e história, para buscar um lugar ao Sol no mercado de trabalho nas cidades.

Ah! Como seria importante e inadiável para os jornalistas atuais a oportunidade de ouvir ex-alunos desses bancos escolares da floresta rondoniense. Onde estariam eles?  Apresentem-se!

Em 1976, diante de alunos perfilados numa escola de madeira, já melhorzinha do que essas de pau a pique, o lendário professor e ex-prefeito nomeado Pedro Tavares Batalha declamava versos para saudar visitantes da comitiva do ex-governador Humberto Guedes.

Essa Rondônia existiu, bem pobre de recursos para fazer funcionar o seu sistema educacional rural. Ainda assim, suas escolas se responsabilizavam pela transmissão de conhecimentos acumulados pela humanidade, ali compartilhados à exaustão.

Professores e alunos aprendiam também noções de resistência a insetos, animais peçonhentos, onça brava e falta de água potável.

Não havia banheiro de tijolo. Ao lado dessas escolas existiam aquelas “casinhas” de palha armadas com galhos de árvores, dentro das quais cavavam um buraco e lá faziam suas necessidades fisiológicas. Tempos depois chegava a Fundação Serviços Especiais de Saúde Pública (Sesp) e melhoravam o ambiente, instalando primeiramente as caixas-d´água, distribuindo cloro e construindo banheiros decentes.

Do que se conclui que, apesar da pobreza, cabeças maravilhosas adentravam ao sertão, ensinavam mais e reclamavam menos. E os alunos filhos de colonos e posseiros de terra exerciam o seu papel de destemidos pioneiros. Todos eles foram.

Fotos gentilmente cedidas por Roberto Gutierrez

www.expressaorondonia.com.br

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