PORTO VELHO – Cabelos rabo-de-cavalo, óculos de grau, semblante sério, Robert da Silva Medina é o protótipo do jovem destes tempos globalizados e (quase) sem fronteiras. Nascidos nos Estados Unidos, filhos de pais brasileiros, rondonienses, mais precisamente, Robert desfruta o que há de melhor tendo dupla cidadania justamente da nação mais poderosa do mundo e do país tropical venerado por turistas de todas as partes.
Mas fala com entusiasmo do fato de ter nascido na América.
Ao passar por ele na rua é difícil imaginar que ali está um cidadão norte-americano. Mas que fala o português com absoluta fluência e tem suas raízes familiares plantadas em solo rondoniense.
A história de Robert é representativa de tantas outras vividas pelos moradores de Rondônia que decidem migrar – ilegal ou ilegalmente – para as terras do Tio Sam.
Próximo de completar 20 anos, no próximo dia 1º, mas comemorados precocemente – em razão de seu retorno aos EUA – num círculo familiar reduzidíssimo por causa da pandemia, na casa de mãe, em Porto Velho, no ultimo dia 26, Robert passou a maior parte de sua vida em Rondônia, mas há um ano voltou para a Flórida e está cursando enfermagem, mas com o sonho de entrar para a faculdade de medicina.
Ele é filho de Rosângela Medina e Roberto da Silva Medina, já falecido, ex-moradores de Ji-Paraná que migraram legalmente para os Estados Unidos em 1998 e moraram durante cinco anos em Boca Raton, na Flórida. Aqui os dois viviam na zona rural de Ji-Paraná. Lá, na América, ele desenvolveu a habilidade assentar cerâmica e ela fazia trabalhos domésticos.
Além do filho nascido na maior potência industrial do mundo, a mãe de Robert confessa que ela e o marido ganharam muito dinheiro nos Estados Unidos. Em 2004 o casal voltou a Rondônia, compraram terras em Ariquemes, mas dois anos depois um acidente durante uma derrubado deixou dona Rosângela viúva e Robert órfão de pai.
Agora, o dinheiro acabou, ela confessa, entre um afazer e outro no improvisado comércio de alimento com que procura se reerguer, no centro de Porto Velho.
Robert, por sua vez, voltou aos Estados Unidos no último dia 2 e segue firme seu sonho de formar primeiro em enfermagem e depois em medicina.
Como tem cidadania americana, Robert não tem problemas para entrar, sair ou permanecer nos Estados Unidos, mas como todo brasileiro ele ganha uns trocados (em dólares, é claro) ajudando outro brasileiro, a quem chama de tio e com quem mora, a limpar piscina.
“Com o clima muito quente da Flórida, todo mundo tem piscina em casa”, conta Robert, que faz faculdade paga por uma bolsa concedida pelo Governo. Como todo americano, depois de formado, Robert terá prazo de seis meses para conseguir trabalho e então começar a fazer a devolução dos recursos que custearam seus estudos. Coisa de país sério.
Reportagem – texto e dição: Carlos Araújo
Fotos: Carlos Araújo e arquivo familiar