RO, Terça-feira, 11 de fevereiro de 2025, às 5:53






O primeiro Chico, ninguém esquece

19 de junho. Aniversário de Chico Buarque. Muitas letras e músicas. Parceiros e discos, mas comemoro aqui não é apenas o Chico Buarque de hoje, que chega aos 80 anos, mas o Chico dos anos 1980 para trás, deixo claro, lembro de pessoas que me apresentaram a música e a poesia deste inspirado compositor e letrista, para mim, da mesma estirpe de Noel Rosa e Ataulfo Alves, guardadas as devidas proporções, pois o Poeta da Vila é e sempre será o maior no quesito sambista, do mesmo modo, Ataulfo. Voltando ao Chico. Então, citarei aqui apenas dois dos quatro amigos que me ensinaram o caminho para às composições do autor de “A banda” e “Trocando em miúdos”.

Desde sua estreia em disco, com Pedro Pedreiro e Sonho de um carnaval, aos 20 anos, Chico Buarque conquistou seu lugar na história da música brasileira. São oito décadas de vida e 60 anos de carreira. Chico Buarque, como disse jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, se tornou uma unanimidade nacional, e com o passar do tempo, a cada disco, trilha para cinema e teatro, a cada peça encenada, cada livro publicado, o autor de A banda e Que tal um samba?, se consagrou como um dos ícones da cultura brasileira com sua arte. Muitos o amam. Alguns odeiam, no entanto, nem mesmo os detratores podem negar seu talento e importância, não apenas para a música, o teatro, o cinema, a literatura, inclusive para a política.

Lá no século passado – afinal este ano fiz 60, tive um professor de Comunicação e Expressão (Língua portuguesa e literatura) chamado Assis. Há muito tempo perdemos contato e talvez ele tenha até partido fora do combinado. Nos meus longínquos 17 anos, foi com o professor Assis, o meu primeiro contato com a obra buarquiana. A princípio por meio do volume Chico Buarque, da coleção Literatura comentada, edição emprestada pelo mestre e que guardo até hoje, como ainda mantenho no acervo o LP cuja capa amarela com o compositor e cantor segurando um violoncelo (por muitos anos realmente achei que ele tocava o instrumento).

Fiquei com o livro e ele com dois discos de uma antiga coleção de Bossa Nova. Na troca também fiquei com um LP do Chico, uma coletânea com seus primeiros sucessos, como A banda, Carolina, Pedro Pedreiro, Noite dos mascarados, Quem te viu, quem te vê, Umas e outras, e mais. Ouvia o disco vezes incontáveis. Tantas que minha mãe passou a reclamar, reclamar e reclamar. Um dia, muito aborrecido, estupidamente quebrei o disco. Claro que me arrependi. Dias depois consegui comprar outro igual. Minha mãe continuou a reclamar.

Pelo menos até o meados de 1984, ano de lançamento do disco cuja capa aparece Chico com uma camisa azul num fundo vermelho. Neste LP tem Pelas tabelas, Vai passar, Tantas palavras, Suburbano coração. De lá para cá parece que a verve poetica perdeu espaço para o escritor. Li o primeiro dos seus livros, Estorvo, não gostei e não li os demais. Parei. Continuo admirador do velho Chico, o mais jovem. Não aprecio o atual, nem velho, nem moço. Mas a obra merece respeito, claro.

Ah, o professor Assis. Suas aulas eram um oásis em meio a mediocridade dos demais docentes. Suas aulas, apesar de maravilhosas para mim, os outros alunos não apreciavam. Infelizmente, ele jogou muitas pérolas aos porcos, como dizem. Daí nossa amizade evoluiu. Passei de aluno a admirador. De admirador a amigo. Conversávamos muito, principalmente depois das aulas. Um dia até me aventurei e aceitei seu convite para uma visita à sua casa. Fui lá duas vezes. Era longe. Muito longe. Hoje, o querido professor Assis me veio à memória. Ele foi um dos melhores que passaram por minha vida escolar. Com ele aprendi muito sobre música e literatura. Depois conto um pouco dos outros amigos, digamos, buarquianos.

Neste dia 19, também recordo quantas vezes a perder de vista, à época do serviço militar, meu amigo Carlos Océlio e eu ouvimos muitos discos do Chico. Os primeiros, o icônico Construção, e claro, o LP de 1978 – aquele no qual ele aparece com um sorriso sacana – Não poderia deixar de comentar sobre os discos que chamo de trilogia  – Meus caros amigos, Vida e Almanaque. Bons tempos de um Chico Buarque em plena forma. Dos anos 1990 para cá, pelo menos para mim, mudaram as letras, as músicas e tudo mais, afinal, mesmo para um compositor genial como o velho Chico a falta de inspiração era algo inevitável.

Recentemente, para homenagear o grande compositor, algumas editoras lançaram pelo menos três livros sobre Chico Buarque. Trocando em miúdos, seis vezes Chico Buarque, de Tom Cardoso. Saiu também Chico Buarque em 80 canções, do André Simões e ainda O que não tem censura nem nunca terá, Chico Buarque e a repressão artística durante a ditadura militar, de Márcio Pinheiro. O primeiro já li. Hoje iniciei o segundo e logo na sequência lerei o terceiro. Cada obra retrata um pouco da história do cantor e compositor, suas lutas, polêmicas, a perseguição dos militares, da censura e das patrulhas ideológicas, análises das composições e por aí vai.


Viva Chico Buarque


 



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